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Mais do que vender livros, promover um intercâmbio cultural

Quem passa pela Fafich todo dia certamente já deve ter notado o senhor que vende livros usados no segundo andar da Faculdade, próximo ao Xerox. O nome dele é Francisco Helvécio Machado, o seu Helvécio. Ao ser procurado para dar uma entrevista, sua primeira reação foi um tanto quanto reservada. Ele fez questão de explicar que outros alunos já haviam feito trabalhos sobre ele antes. Insisti. Falei sobre a proposta de perfilar os trabalhadores “informais” da UFMG, que não têm um vínculo formal com a Universidade.

– Mas eu tenho um vínculo com a Fafich. Eu sou legalizado.

E assim começou nossa conversa, com o que parecia ser uma certa desconfiança da parte dele. Seu Helvécio foi respondendo objetivamente às primeiras perguntas: ele é um professor de História aposentado e trabalha há dez anos vendendo livros de Filosofia, Literatura, Política e Ciências Sociais na Fafich.

– Essa é só uma maneira de sair de casa e vir aqui prestar um serviço. Eu tenho livros, atuo aqui para promover um intercâmbio cultural com os estudantes. Aqui é um ponto de encontro, os alunos vêm, recomendam livros, guardam material aqui, sentam e batem papo. Os professores trazem material, deixam livros para eu encadernar.

Há cerca de 35 anos, ele fez um curso de encadernação e começou a encadernar seus próprios livros. Hoje o livreiro tem uma oficina em casa e trabalha como artesão, atendendo à demanda de algumas pessoas que o procuram para encadernar seus livros, como os professores da Fafich.

Seu Helvécio é um leitor de literatura clássica – como a de Dostoievski e Sthendal –  e de livros de História. Ele diz que não tem personagens favoritos e explica:

– Eu sou velho já. Na minha idade, a gente lê mais para não esquecer. A gente não lê coisas novas, a gente relê coisas antigas. Eu tenho 71 anos, não dá tempo de aprender mais nada não.

Mas, aos poucos, a apreensão vai ficando de lado. Seu Helvécio vai se soltando e acaba mostrando que, na verdade, sempre manteve uma grande paixão pelo aprendizado. De práticas esportivas ao estudo de hieróglifos, diversos tipos de conhecimento fazem parte da história deste livreiro.


Por que a Fafich?

– Dos prédios que eu conheço aqui, a Fafich é o que tem maior liberdade para se entrar e sair, aqui tem o convívio nos corredores. Esse é o espírito da Fafich, isso é bacana. Você chega lá na Face, por exemplo, tem que apresentar identidade, tem que dizer o que vai fazer lá. Na Engenharia é assim. Aqui não, aqui é um espaço livre, típico da área de Humanas. Os estudantes não são apegados somente ao estudo, eles têm convivência. Isso é bom.


Geração Xerox: a relação com os livros mudou

Ele conta que, às vezes, fica lá o dia inteiro e não vende nada. Mas tem determinadas pessoas com quem ele tem contato e conversa. Alguns alunos pedem para procurar um livro ou algo do tipo.  Outros “são mais de movimento”, passam, olham os livros e vão embora. Há cerca de uma década, havia muitas pessoas que expunham na Fafich, dado o maior interesse por livros na época.

– Hoje não, o Xerox fica lotado, é a geração do Xerox. Eles não têm a noção de livros, leem capítulos apenas. E as pessoas não têm mais o hábito de guardar, fazer uma biblioteca. Houve épocas em que a movimentação de livros aqui era imensa porque não tinha essa cultura do Xerox e nem da internet. Nos intervalos, todos procuravam livros. Aqui tinha muitas bancas, todo mundo expunha. Aqui tinha teatro, danças. A Fafich não era essa paradeza não, era movimentado. E isso foi desaparecendo nos últimos dez anos.

 

Trabalho

(Sr.) Helvécio

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